O dia em que o Pouso Alegre FC triunfou no Mineirão e calou a torcida do Galo
Por Carlos Manoel
25 de março de 1990. Era um domingo de sol em Pouso Alegre. Naquele dia a cidade, que tinha aproximadamente 100 mil habitantes, estava apreensiva. Esse sentimento podia ser visto em todos os pousoalegrenses apaixonados por futebol. Ninguém queria saber de outro assunto, se não o Pouso Alegre FC, que naquela tarde enfrentaria a tradicional equipe do Atlético, em Belo Horizonte.
A partida entre “Davi e Golias” poderia ser considerada apenas mais uma. O time do Sul de Minas estava em seu segundo ano na elite do futebol mineiro, mas as circunstâncias que envolviam aquele jogo faziam dele, um duelo especial, principalmente para o Galo. Naquele 25 de março de 1990, o Atlético completava 82 anos de história e o Dragão não foi um mero convidado para a festa atleticana, marcada no Estádio do Mineirão.
A partida entre Galo e Pouso Alegre FC era válida pela 15ª rodada do Campeonato Mineiro. O Atlético estava próximo de vencer o primeiro turno daquele certame e precisava da vitória para se manter na liderança. Já o Dragão vinha fazendo uma campanha regular, mantendo-se entre os 10 melhores na tabela de classificação, muito até para um time do interior, que contava com uma pequena estrutura e com pouco apoio.
E para piorar a situação dos visitantes, o Pouso Alegre FC vinha de uma derrota em casa para a Caldense, por 2 a 1. Enquanto isso, o time da capital tinha ganhado sua partida anterior sobre o Esportivo de Passos, por 2 a 1, e de virada. Portanto, o jogo do dia 25 de março de 1990 era entre a confiança e a dúvida, o Galo e o Dragão, o Atlético e o Pouso Alegre FC. E prova disso, era o que a imprensa belo-horizontina apresentava:
“O campeonato no seu turno, vai chegando ao fim, caminhando para um desfecho favorável para o Atlético, que agora vai jogar suas três partidas finais aqui na capital, duas das quais seu embalado time não corre risco maiores. A primeira é domingo, no Mineirão, diante do Pouso Alegre. (...) O título poderá ser comemorado previamente em razão do saldo de gols, principalmente se o Atlético marcar muitos gols neste próximo jogo”.
As palavras acima foram retiradas da edição do dia 23 de março de 1990, do jornal Estado de Minas. O texto escrito pelo cronista Erasmo Ângelo expunha o clima que o Pouso Alegre FC iria enfrentar. A torcida estava eufórica, o clima de oba-oba tomava conta da “Massa” em Belo Horizonte. Os jogadores negavam tal sensação, mas no fundo, todos sabiam que iriam vencer o duelo com o time do Sul de Minas.
O Atlético entrou no gramado do Mineirão prometendo uma grande vitória sobre o Pouso Alegre FC, que não almejava muito, um simples empate estava de bom tamanho para os rubro-negros. Antes de a bola rolar, o Galo promoveu um desfile comemorativo com vários segmentos do clube, uma partida preliminar entre garotos da base e até pousos de pára-quedistas no Mineirão. Tudo isso fazia parte da festa.
Márcio Resende de Freitas foi quem apitou o início de jogo. Mesmo com apenas 7.359 torcedores nas arquibancadas do Mineirão, o Galo foi para cima do Pouso Alegre FC. A pressão no começo da partida foi tanta que Paulo César não suportou e deixou Gérson, o contestado artilheiro do Atlético, balançar as redes do gol que defendia, isso logo aos 4 minutos. Galo na frente. E a pressão seguia.
Os donos da casa foram perdendo várias oportunidades de ampliar o marcador. Paulo César se desdobrava para segurar o ataque do Atlético. Éder Aleixo era o que mais levava perigo. E foi nesse momento que uma máxima do futebol entrou em cena: “quem não faz, leva”. Após tomar vários sustos, o Dragão organizou sua marcação e seu meio de campo, e com velozes trocas de passes, aproximou-se do gol atleticano.
E foi em um lance rápido, que Heleno empatou a partida. O atacante do Pouso Alegre FC aproveitou a oportunidade que teve e anotou o seu gol. Com o placar novamente em igualdade, os times passaram a cadenciar a partida para levar o resultado para o intervalo. Como precisava da vitória para manter-se na ponta do Campeonato Mineiro, o Atlético voltou com tudo na segunda etapa.
Fechado, o Dragão segurava de todas as maneiras o forte time do Galo. Paulo da Pinta, César e Zigomar faziam de tudo para impedir as jogadas dos atacantes do Atlético. Quando não conseguiam, Paulo César estava lá, sob as traves. O camisa 1 do Pouso Alegre FC vinha sendo o nome do jogo, mas o personagem da partida seria outro atleta rubro-negro: Carlão.
O atacante do Dragão sempre que tocava na bola levava perigo ao time do Atlético. Ora era um arremate para o gol, outrora era um passe de efeito. E aquela tarde tinha que ser de Carlão. O camisa 9 do Pouso Alegre FC insistia, acreditava e buscava sempre o jogo. E foi através de sua persistência que os pousoalegrenses viraram o duelo. Aos 35 minutos da etapa final, em um contra-ataque Carlão marcou o segundo gol do Dragão: 2 a 1. Silêncio no Mineirão e vitória do Dragão.
Depois do apito final, os jogadores do Pouso Alegre FC comemoraram a vitória como poucos. José Maria Pena, técnico do Dragão, foi abraçado por todos os jogadores. Carlão era um dos mais exultantes assim como Paulo César, e fizeram por merecer. O esforço para superar o Atlético e todo o favoritismo que cercava os donos da casa foi grande e a vitória colocou o Dragão de vez na história do futebol mineiro e na memória de toda torcida pousoalegrense.
- Em 1990, os jogos do Campeonato Mineiro não eram transmitidos pela televisão. Por isso, essa famosa partida contra o Galo, e as demais, foi registrada pela voz do inconfundível Luciano Silva, da Rádio Clube de Pouso Alegre. Com ele, trabalhavam Ideísio Dantas, Paulo Roberto e José Henrique.
- Após a bela partida e o gol da vitória, Carlão recebeu uma proposta do futebol grego, mais precisamente do Athletic Club Skoda Xanthi. Ao fim do Campeonato Mineiro de 1990, o atacante seguiu para a Grécia, onde se tornou ídolo local. Além dele, outros atletas que se destacaram na partida, foram embora posteriormente, caso de Nonato.
- A derrota causou um impacto negativo para o Atlético. Depois de perder para o Dragão, o Galo deu início a uma série de resultados insatisfatórios, chegando a perder o título mineiro para o seu rival Cruzeiro. Título este que já era dado como ganho ao Atlético. O Pouso Alegre FC mudou a história do campeonato.